Em 2020, garimpo avançou 30% na Terra Indígena Yanomami, aponta relatório

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Instituto Socioambiental

25 de março de 2021

Amazônia brasileira

[/vc_column_text][vc_video link=”https://www.youtube.com/watch?v=kF9r89C6hvk” align=”center” title=”Feridas do garimpo aumentam em 2020 na Terra Indígena Yanomami | #ForaGarimpo”][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_separator border_width=”3″][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]Levantamento inédito sobre o avanço do garimpo no território indígena aponta proliferação de novos núcleos de invasores mais próximos das comunidades indígenas, incluindo de grupos de índios isolados, e a abertura de novas rotas para dentro do território

De janeiro a dezembro de 2020, uma área equivalente a 500 campos de futebol foi devastada na Terra Indígena Yanomami, localizada ao extremo Norte do Brasil, entre os estados do Amazonas e Roraima. Quinhentos hectares de floresta Amazônica foram destruídos pelo garimpo ilegal no território indígena. O total de área desmatada é de 2.400 hectares – e somente em 2020 o aumento foi de 30%.

Mesmo com a pandemia da Covid-19, que já matou mais de 300 mil pessoas em todo país, a atividade ilegal nunca parou, pelo contrário. Produzido pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) e Associação Wanasseduume Ye’kwana (Seduume), o relatório ‘Cicatrizes na Floresta – Evolução do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami (TIY) em 2020’, lançado nesta quinta, 25 de março, denuncia como a atividade criminosa se prolifera na terra indígena, subindo os rios e se aproximando cada vez mais das comunidades indígenas, com novas rotas de acesso ao interior da floresta.

O relatório destaca seis regiões especialmente afetadas pela devastação, como Waikás e Kayanau, com 35% e 23% do total das cicatrizes mapeadas, respectivamente. O documento aponta ainda a localização exata de novos núcleos garimpeiros nas calhas dos principais rios que correm pela terra indígena, em especial o rio Uraricoera, que concentra mais da metade (52%) de toda a área degradada pelo garimpo na terra indígena. Até recentemente, o garimpo “tatuzão do mutum”, às margens do Uraricoera, concentrava a maior parte da exploração na região. Hoje, além dele, surgiram três novas áreas de garimpo perto das comunidades de Aracaçá, Korekorema e dos Ye’kwana de Waikás.

A liderança Yanomami e xamã Davi Kopenawa, presidente da Hutukara Associação Yanomami, diz que está preocupado e revoltado com a atual invasão garimpeira. “Você vê a água suja, o rio amarelado, tudo esburacado. Homem garimpeiro é como um porco de criação da cidade, faz muito buraco procurando pedras preciosas como ouro e diamante. Realmente, retornou. Há vinte anos conseguimos mandar embora esses invasores e eles retornaram. Estão entrando como animais com fome, à procura da riqueza da nossa terra. Está avançando muito rápido. Está chegando no meio da terra Yanomami. O garimpo já está chegando na minha casa”, afirmou Kopenawa.

O xamã conta ainda que teme um conflito com os invasores. “Estou muito preocupado, pois o garimpeiro não está sozinho, são grandes grupos, andam armados, apoiados por empresários, pelo governador de Roraima e pelo presidente Bolsonaro, assim como outros empresários do Brasil. Aqui em Roraima, os garimpeiros, empresários e políticos não respeitam os povos indígenas, só querem tirar as nossas riquezas”, enfatizou Kopenawa.

O documento aponta o aumento de conflitos entre indígenas e garimpeiros como um dos efeitos da maior presença garimpeira na Terra Indígena Yanomami, a exemplo do assassinato de dois jovens yanomami na região do rio Parima, em julho de 2020. Já no início deste ano, em 25 de fevereiro, indígenas da comunidade de Helepe sofreram um ataque de garimpeiros que resultou em um indígena gravemente ferido e na morte de um garimpeiro – ao se retirarem, os garimpeiros ameaçaram retaliação. No passado recente, situações similares resultaram em chacinas como a de Haximu, em 1993, primeiro caso de genocídio reconhecido no Brasil.

O relatório foi elaborado a partir de análises de imagens de satélite da constelação Planet e Sentinel 1, mapeamento mensal das áreas degradadas na TIY, e organização de informações oriundas de denúncias e relatos das comunidades. Um sobrevoo do Sistema de Monitoramento do Garimpo Ilegal na TIY, realizado em dezembro de 2020, produziu o registro fotográfico que complementa o levantamento.

Povos isolados podem sofrer genocídio

O novo levantamento também denuncia como o avanço dos garimpeiros no território indígena tem levado doenças às comunidades, sobretudo malária e Covid-19, e colocado em risco a sobrevivência de grupos de indígenas isolados, ainda mais vulneráveis às enfermidades.  “Os dados indicam também para o aumento da pressão sobre os grupos de indígenas em isolamento voluntário Moxihatëtëma, pressionados pelo aumento da circulação de garimpeiros na região da Serra da Estrutura a poucos quilômetros de suas comunidades. Um eventual contato forçado, nesse estágio, arrisca desencadear num trágico episódio de genocídio”, diz trecho do relatório.

O documento, assinado pela  Hutukara Associação Yanomami e Associação Wanassedume Ye’kwana, demanda uma série de recomendações às autoridades e órgãos públicos, com destaque para a apresentação urgente de um plano integrado de desintrusão total do garimpo na Terra Indígena Yanomami, a retomada de operações periódicas na terra indígena para destruição da infraestrutura clandestina instalada e o avanço das investigações para identificar e responsabilizar os atores da cadeia do ouro ilegal.

Recentemente, a Justiça Federal brasileira determinou multa diária de R$ 1 milhão à União por não retirar garimpeiros da Terra Yanomami. A decisão exigiu a apresentação de um plano emergencial e estabeleceu 10 dias de prazo para o início da desintrusão.

O relatório será entregue pelas lideranças indígenas aos órgãos públicos federais responsáveis pela fiscalização territorial da TIY.

“A Hutukara já denunciou várias vezes a presença do garimpo, com documentos bem explicados e detalhados. Temos que entregar na mão do chefe da Funai, MPF e PF que são órgãos competentes que devem providenciar medidas para proteger nosso território. Devemos entregar o documento até na mão do presidente da República. Essa é a nossa luta e vamos continuar denunciando. Vamos lutar sem medo, estamos defendendo nosso direito, a nossa Terra Mãe. Eles não podem roubar a nossa Terra. Essa é a minha luta junto com os novos guerreiros”, finalizou Davi Kopenawa.

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Leia o relatório aqui:

Cicatrizes na Floresta: Evolução do garimpo ilegal na TI Yanomami em 2020

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